sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Retorno e Triunfo do Sonhar

Olhos fechados, rostinhos serenos. É prazeroso ver como o sono traz feições gentis e uma estranha e quieta ausência de malícia. O aspecto daquelas faces antes ameaçadoras, tramando a derrota alheia, agora ausente, contudo inviolante, inspirando confiança. Até o mais vil dos discípulos de maquiavél pode se tornar um mero desprovido de segundas e terceiras intenções caso esteja dormindo. Quero assistir a todos dormirem, para que seus olhares penetrantes não me cerquem, mas antes desejo vê-los compenetrados num único objetivo: serem puros para com suas essências. Qual despertos são maquinadores de desígnios dominadores, enquanto dormentes são meras faces de meios-sorrisos e nenhuma maldade. Tenho novamente o almejo de sonhar, e ver o quão bom é este plano doce que inspira tanta bondade em carrancas deformadas por ódio e resignação.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Staccato inquietante; Ária de mágoa

Essas pessoas... Para que esquina de seus interiores foram seus sensos? Para qual confim do universo foram suas resoluções? Indigno-me de seus caprichos, tolos! Tolas! São todos animais, por que consideram cuidadosamente seus instintos, se nunca ousam deixá-los? Torna-se para mim cada dia mais difícil empatizar com seus hábitos, com seus humores. Por que me sinto tão desapegado, destacado? São presos por grades de formas, cabelos, sorrisos e prendas. Compensação por aceitação. Indulgência. Cinísmo. Lascívia! Para onde foram seus sensos, danação?! Se me fosse cabida qualquer danação.. Ah, não os culpo.. Não os entendo. São como ovelhas, com ou sem pastor, mas são ovelhas que rastejam como cobras e ladram como cães! Não sigo seus pensamentos, sou tão ilógico assim? Por que não os compreendo? Por que não assimilo seus desígnios e tomo parte de suas vãs futilidades? Tenho como pertence a mim próprio e nada mais; não sinto o pulsar de suas veias, não sinto o calor de suas mãos, só o frio de suas carrancas sem sentido. Sinto-me nu, como quem encontra e perde de imediato, como quem sabe e não lhe é perguntado. Sei, e o pior de tudo é que sei. Sei também o quanto sou maldito nesta lacuna de mundo, sem entender, interiorizar ou almejar qualquer que seja a praxis destes meus primos distantes. Humanos, humanos.. Por que me sinto tão pouco quanto vocês? Por que me enoja tanto sua linguagem? Por que me torno quieto diante de seus olhares brincalhões? Não os entendo, mas amo-os tanto, por que?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Alada Sophieé pés de alabastro

"Asas, asas, as guardo para mim!
Só revelo, por sopros, uma espiral sem fim,
repleta de carícias verdejantes de sibilante significado,
que palavras vãs e iníquas jamais teriam falado!"

O charadista continuava por apresentar seu amigo, Jaremy, e com metáforas falava de asas, asas alvas como o leite de tulipas..

"Tu ru ru, tu ru ru, tu ru tu ru ru ru ru ru" serpenteava o flautista, apontando para Cyanjack com a ponta de sua perene flauta transversal.

E pela noite afora, nas areias da praia, sob o céu pululando com estrelas, os dois amigos encantaram dezenas de corações com palavras recitadas com doçura e tristeza; outras sopradas em compassos disformes por lábios em embocadura quente de tanto sibilar. Suspirava, suspirava, suspirava até não poder mais a inebriada Sophieé, dama de três-mais-vinte, que nada sabia da vida. Cambaleava de paixão sem saber quem amava mais, se o ácido misterioso ou o gentil galante, ambos o mesmo inquieto falador, de cartola, camisa vermelha xadrez e sorriso amarelado. Enquanto o flautista distribuia alguns botões de rosa, Cyanjack deu conta de dar ainda mais asas ao coração de pobre Sophieé;

"Dança, canta, craveja o chão com tua graça!
Por que teus preciosos pés o são como um adorno,
peço-lhe teu amor que constantemente me enlaça,
e imploro, doce dama, um último beijo, para meu bom sono.

Questiono eu então, por que hás de me conquistar?
Se em meus sonhos me foi dado o dom do ser sozinho?
Bem sei que amável e de desejo é teu âmbar.
Então declara a mim todo o teu amor e teu carinho!

Asas, asas, as escondi de ti!
Pois meu anjo, sem elas, não podes deixar-me a mim.
Mesquinho, a quero só ao meu lado e por fim,
amaremo-nos eternamente sob estrelas, mesmo aqui!"

E entre rosas rodopiando pelo ar cheio de sereno, nossos amigos conquistadores vagam, triunfantemente, rumo ao próximo povoado onde irão espalhar todo o amor do mundo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Imaginário de sopros estrelados

O garoto mudo mal se expressava por palavras. Escrevia numa plaquinha de vez em quando, esboçava mímicas. Acima de tudo, soprava notas perenes em sua flauta esverdeada, feita de uma madeira especial das colinas de Angmont. Dizia (ou melhor, diziam por ele), que lhe tinha sido dada por um mágico viajante, o qual nunca mais fora visto. Presente de um místico ou não, o rapaz só a tocava alegremente pelos vilarejos por onde passava juntamente de seu melhor amigo, um charadista de muitas (e confusas) palavras. Tudo era motivo para falar por matemática, adivinhas ou perguntas simples. Nunca falava de maneira comum, indouta. Usava palavras rebuscadas e de tonalidades diferentes. Era quase um pintor da voz, ora gritando carmesins, ora sussurrando verdes-musgo. Ambos eram peculiares, porém muito bem quistos. Trilhavam seus destinos por vagar pelas terras irregulares e pacatas do condado de Inghisbrook e além, espalhando alegria todas as noites, quando faziam do ar livre um espetáculo de notas doces, charadas, risos eufóricos de felicidade e suspiros de garotas, que após o lindo imaginário de flautas e estrelas, como chamavam as apresentações sob o luar, recebiam um botão de rosa de cada um dos dois amigos, Jaremy e Cyanjack.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Insólito Imundo Iconoclasta

"Escrever sobre loucura é facil, difícil é ser internado por causa de cavalos"

-So sayeth the wise, Casablanca Maraccino

Sketch nº 7 (Helter Sketcher [No use, babe.])

Us. Nós nunca mudamos. We know, sempre soubemos. Sob diferentes luares pintados em tela viva esboçamos sorrisos verdadeiros e carícias simples. I can almost feel your breath, your smell. Cloves, mint, sun and nuts. Nós sabemos exatamente qual o cheiro. Havia um gesto singelo, nós recordamos, houve um calor genuíno, o peso de nossa cabeça em nosso peito. E o pulsar era gradativo até parar com um desvio de olhar. Oh, smile again, please. As you'd like. We fought, strived, loved. Amamos até a última gota. E por que seus olhos são umbras que refletem estrelas e astros, o mundo foi mudado. Por que és feita de marfim, ébano, ouro e diamantes negros, e por sua forma ser infinitamente bela, o passado se prostra e o futuro suspira. "The curve of your lips will rewrite history". E como se não bastasse a responsabilidade do cativar cabida a todos(we're irresponsible and we know it), a ti pertence a paixão. Dost thou speakest the truth? For we are not us and ours are not thine or mine. We love thee until we can't breath. Nós amamos. Nós sabemos. Nós nos conhecemos. E dê-me a ti, e ti inteiramente, que todas as cores nos serão dadas. For any we, us, thou and ye art, hast or wilt nada aquém daquele mesmo amor, incorrigível.